Pequenas coisas

"Devemos ser gratos a Deus pelos pequenos detalhes. 
Nos detalhes, descobrimos o valor de uma realidade. 
Olhar as miudezas da vida faz a diferença." — Fábio de Melo


Acordei um tanto pensativa nessa quinta-feira. O silêncio fez parte de mim no decorrer de toda manhã. Não sou muito de falar, essa é a verdade. Não em momentos como esse, em que o coração diminui três vezes de tamanho e a mente é ocupada por centenas de coisas ao mesmo tempo. A vontade é de chorar e tirar, de dentro, toda essa angústia que invadiu meu dia. Todo esse medo e essa sensação de insuficiência que habitou meu peito. De fato, acredito que não seja suficiente pra ninguém. Acredito que não deva. Suficientes somos apenas para nós e nossa própria sobrevivência. Os outros nos completam, nós completamos os outros, mas nunca os preenchemos por inteiro. Nunca nos preenchem por inteiro. Há sempre um buraco, uma fresta, um espacinho de ar que grita por nosso nome. Precisamos nos amar acima de tudo, isso sim. 

A tarde chegou meio vazia. O único som vinha do iPod, que tocava pela décima quarta vez a mesma música de Sara Bareilles. Foi quando a lágrima insistiu em cair como um rio em forte correnteza. Uma mistura de vontade, saudade, insatisfação e tristeza saiu da minha garganta na forma de um choro baixinho, como o de quem pede por um simples abraço. Tão simples que, no meio de tanta complicação, se torna o essencial. Se torna o necessário para todos os devaneios irem embora, dando lugar à paz de espirito e a calmaria do peito, que vive em eterna palpitação. É nesse momento que percebemos o poder dos pequenos detalhes. O poder de um sorriso, de um "obrigada", de um "por favor". O poder das coisas que, ainda que miúdas, transformam um dia inteiro.

As pequenas coisas estão por toda parte, mas nem todos conseguem enxergá-las. São poucos os que lembram. São poucos os que praticam. São poucos os que fazem questão. Por isso, nesse fim de tarde, de mundo, de ano, resolvi prestar mais atenção nas pequenezas. Resolvi olhar para essa tarde, que começou meio vazia, como uma tarde meio cheia. Uma tarde que me fez abrir os olhos e reconhecer que a beleza da vida não está em capas de revistas ou comerciais de tv. A beleza da vida está na saudade, na gentileza, na preocupação, no cuidado, no gesto, no dedo, na voz. A beleza da vida está dentro de cada um de nós, basta olharmos com amor.

Clara

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